Apesar de você

Chico Buarque
Composição: Chico Buarque


Amanhã vai ser outro dia

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão.
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.

Apesar de você
amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar.

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro.

Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
de “desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar.

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria.

Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença.

E eu vou morrer de rir
E esse dia há de vir
antes do que você pensa.
Apesar de você

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia.

Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal,
La, laiá, la laiá, la laiáÂ…Â….

Assim que eu acordei...

O dia foi longo e por isso resolvi ir para a cama mais cedo, agora a pouco fui acordada com esta música. O meu vizinho do telão (que é outra história) estava ouvindo no último volume. Inicialmente era de se ficar mal-humorada, mas “apesar de você...”

O externo desenvolve nossas sandices e quando penso no individual da frase, percebo que o apesar de você não existe de forma dramática para mim. Até tento dramatizar e transformar algumas coisas em um bolero de quinta. Mas acho que não está em mim! Algumas situações que me cercam, também puxam para isso. Sou bem suscetível às manias e sandices do outro. Gosto de pessoas. Assimilo o que elas têm. Mas... “apesar de você...”

Mesmo sabendo de um longo caminho perdido, aprendi e apreendi algumas coisas (captamos tudo, mesmo que o mundo seja de Alice!) e uma delas foi de não odiar, não ter raiva (só as instantâneas) e perdoar – sempre! Talvez esteja em mim o “amanhã é outro dia”. Passividade, permissividade excessiva, tolice?! Não sei. Mas gosto de pensar no outro dia, mesmo que ele seja regado à desesperança. Quem sabe não é a sede de se buscar tudo o que o instante pode me dar?!

Amanhã vai ser outro dia! E assim vamos relevando as tolices!


Ps.: depois quero falar do contexto político desta música. Hoje transitei por vários ambientes e situações que também me deram outro instante.

3 comentários:

Vera disse...

Olha, acordar de mau humor ouvindo Chico Buarque é inusitadíssimo! Mesmo que o volume do rádio esteja ultrapassando os "Béis" suportáveis pelo ouvido humano.

É uma música maravilhosa mesmo.

Beijo.

Danitza disse...

A verdade é que o mau-humor aconteceria devido ao horário - 3:30 da manhã, mas como disse: era Chico Buarque.

Beijo de cá também

Vera disse...

3:30 da madruga?

Sorte do teu vizinho que a música era do Chico, hein? Risos.

Beijos de cá- lá - dos!

;-)