Metamorfose

Vick Muniz

"Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
chamei de mau gosto o que vi
de mau gosto, mau gosto
é que Narciso acha feio o que não é espelho
e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
nada do que não era antes quando não somos mutantes"
Sampa - Caetano Veloso

Básico

Voltei ao básico, sem muitas cores, espero que com mais textos... Mesmo não tendo muito tempo para eles!
Agora ando dividindo a vida entre: trabalhar, viajar, cuidar da casa nova (estou amando a vida longe da mamãe), dos filhotes e lendo um pouco mais (meu alimento preferido). Ainda sofro horrores quando o assunto é cozinha, mas quem sabe um dia não chego lá?!!! Com um Chef à minha disposição! Ele e a equipe toda.
Enquanto isto desenvolvo o roteiro do livro de terror! As peripécias são tantas que darão umas boas páginas...
Você já viu alguém com medo da batedeira? Ou que acenda o fogão automático com fósforos? Que faz omelete com queijo cheddar? Esta soy jo!... Sem qualquer garantia!
Continuo convicta - "não nasci para esta vida". Adoro o lanchinho da TAM, da Webjet e até da Gol, o menu do hotel, a comida de restaurantes espalhados por aí... Qualquer coisa, menos o buraco negro da cozinha.

Ok, ainda assim... Estou feliz!

Os pássaros de Frédéric



XXI


A acidez das palavras;
o soco no estômago.
Você!
Vocifera em silêncio as sensações esquecidas...
Cansa-me!
Mata-me!
Transforma o dia em um "Livro de Horas".
Traz em si as convicções de um órfão; da grande família pequena e burguesa.
Voa livre para dentro de si e descobre que só há solidão.
Mais uma vez não tem nada, só o sexo doce e marcante.
Moeda de troca?
Nele encontra o alimento e as palavras.
Não troca!
Nomeia o silêncio como fonte de vida...
Mudo!
Voo!





ainda moro na poesia

Realização da vida

Não me peças que cante,
pois ando longe,
pois ando agora
muito esquecida.

Vou mirando no bosque
o arroio claro
e a provisória
flor escondida.

E procuro minha alma
e o corpo, mesmo,
e a voz outrora
em mim sentida.

E me vejo somente
pequena sombra
sem tempo e nome,
nisto perdida
- nisto que se buscara
pelas estrelas,
com febre e lágrimas,
e que era a vida.

Cecília Meireles, Mar absoluto (1945)

Por aqui, por aí!

agora é a melhor parte...
quando saio de mim mesma
tenho alguns pesos a menos
kilos a menos
enfim, andejo!

Nuit Blanche!

Porque as realidades são outras...

Permitam-me que seja franco
antes de começar
Não vão gostar de mim.
Os cavalheiros sentirão inveja
e as damas repulsa.
Não vão gostar de mim agora
e muito menos com o decorrer da história.
Damas,
um aviso.
Estou disponível.
Sempre.
Não é uma questão de orgulho ou opinião.
É uma constatação médica.
Digo-o de forma categórica.
E irão vê-lo de forma inequívoca.
Não.
É uma posição confortável a vossa
é melhor observar e tirar as vossas
conclusões de forma distanciada
ao invés de o fazerem vendo-me
envolvido com as vossas mulheres.
Cavalheiros,
não desesperem.
Também estou disposto a isso.
E portanto, o mesmo aviso
se aplica a vós.
Controlem as vossas erecções até
que eu tenha uma última palavra,
mas quando tiverem sexo,
e terão sexo,
estou certo que o farão,
saberei se me desapontaram.
Desejo que façam sexo
enquanto vos observo e
ridicularizo os vossos genitais.
Sintam...
como eu senti,
como eu me sinto.
E pensem.
Seria este arrepio
o mesmo que ele sentiu?
Será que sentiu algo de mais profundo?
Ou existe um muro de infelicidade em
que todos chocamos com as cabeças
nesses pequenos momentos eternos?
É tudo.
Este foi o meu preâmbulo.
Nada em rima.
Nenhuma afirmação de modéstia.
Não esperavam isso, penso eu.
Chamo-me John Wilmot.
Visconde de Rochester.
E não quero que gostem de mim."


Para os dias em que a única coisa que queremos e precisamos é mandar o mundo às favas (para ser dócil)!

Não tenho vindo! Os instantes têm sido para a memória...
Meu filhote sempre diz: "devaqueseja" tudo de bom!

Cântico dos Cânticos

"Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço; porque o amor é forte como a morte; e duro como a sepultura, o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas.
As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado."
8:6,7

Silêncio


Silencio en la nocheya
todo esta en calma
el musculo duerme
la ambicion descansa

Silencio en la noche
Silencio en las almas

Carlos Gardel
Alfredo Le Pera
Horacio Pettorossi - 1932

Respirar

Ruinas de São Miguel das Missões - RS
"encontrar imagens para as minhas transformações"
Rilke

É inevitável! A hora de ensimesmar-se, de mergulhar nas inquietações de ser. Descobrir a beleza das ruínas. Exprimir o querer! Envolver, devolver. Dar nova forma ao que passou. Compreender o que não passou e não passará. Tatear o evitável para perceber porque se evita... Não temer as reações e percepções, afinal no ciclo de vida e morte somos falíveis e corruptíveis.

just one more day



...

"Quero viver como se o meu tempo fosse ilimitado. Quero me recolher, me retirar das ocupações efêmeras. Mas ouço vozes, vozes benevolentes, passos que se aproximam e minhas portas se abrem..."
Rilke


La Condition Humaine - 1935

René Magritte

Há um jardim em mim!


De pensamentos doces como a cinnamomum.
Em cores fortes de carmim.

Com o brilho intenso dos girassóis.

Há sempre um jardim em mim!

Ferreira


Há dias que estou por postar algo de um menino lindo que conheci... Estava reflexiva, com receio em não acertar na escolha.
Hoje percebi algo e decidi por este que está aí abaixo.
Fala bem das insuficiências do amor!


Insuficiente
O teu rosto de mulher,
Reflecte uma pureza de criança.
O teu sorriso é o desabrochar de uma flor.
O teu olhar transcende a matéria,
Tocando a minha alma.
A tua voz remete-me a lira do Aedo.
O teu cheiro conduz-me ao campo de lírios.
Acariciar-te a pele,
É deslizar nas virgens dunas,
Do mais puro deserto.
O menino-prodígio não compôs notas,
Mais lindas que as tuas palavras.
Infelizmente a palavra é insuficiente...
Delgado Ferreira Mão Por Mom - Mom Por Mão

Dos mais lindos presentes...

In the Mood for Love - A Musical Reflection - Adagio, Secret Garden e Yumeji's Theme de Shigeru Umebayashi

Quando estamos dispostos e é isto que buscamos, a vida nos dá belos presentes.

Em uma troca de e-mails com o mais novo amigo José Pais, para mim Zé, ganhei um lindo presente. Ele me apresentou In the Mood for Love... Ainda não vi ao filme, estou à procura, mas o pouco que vi já me diz que é poesia em sua totalidade.

Obrigada, Zé!

Clarificência

"É só uma noite clara! Clara pelos olhos abertos da alma. Claridade que afeta a pele e o pensamento."

Ela não percebeu que hoje seria necessário dirigir-se ao metrô. Os ônibus não estavam trabalhando, os bondes eram velhos e cheios. Seu carro havia um bom tempo estava na garagem parado, envelhecendo, pois ela não aprendera, ainda, a dirigir. Acho que temia a ligação homem e máquina. Dessa forma, uma idéia a incomodava: tanto ela quanto ele, inevitavelmente, se enchiam de pó. Por outro lado sentia falta das caminhadas, porém seu corpo, naquele dia, não estava preparado (talvez pela falta de combustível ou por excesso de ferrugens) Então, seguiu seu caminho.

A trajetória seria longa; algumas paradas, aquele entre e sai frenético, vozes e ausência de palavras. O paradoxo do urbano - de máximos e mínimos. Gostava daqueles rostos silenciosos, eles faziam com que se lembrasse das poesias no ladrilho: letras que convergiam em música, desenhos que se tornavam filmes. Poesia que a transportava no tempo, no barulho da pressa: ir e vir, abrir e fechar, entrar e sair…

Por um segundo notou que ao longo da viagem, alguém, assim como ela, estava solto no tempo. Perdido em pensamentos. Quis estar perto, quis saber daquela vida, mas a distância do hoje, fez com que não se aproximasse. Lembrou-se que era ágil com as palavras somente em cima de uma folha de papel. Calou-se antes mesmo de dizer, mesmo tendo dentro de si um turbilhão de indagações.

Voltou-se para a viagem e percebeu sua imagem no reflexo da janela. Estava cansada, mas o brilho nos olhos refletia a alegria da alma. Sabia que aquele cansaço era externo. Era o cansaço daquilo que o mundo dá - não daquilo que a alma sente. Mas não entendia se era possível separar a alma do mundo.

Largo! Era esta a sua parada. Assim como todos à sua volta fez o percurso automático de sobe e desce de escadas, sem perceber os que estavam ao seu lado. Já era natural estar no meio da multidão. Há tempos tinha sido transformada pelas ruas, pelo concreto e pela agitação. Já não sentia a distância de casa. Não percebia nem mesmo o cheiro de terra molhada… que por vezes tinham sido seus momentos de delírio.

Estava indo ao encontro de um escritor, era seu segundo trabalho. O primeiro era um jovem poeta, com poucas publicações, mas tinha leveza e doçura em seus poemas. O lançamento ainda estava por vir, mas com boas indicações, boas críticas e previsão de um futuro enriquecedor.

A noite anterior tinha sido branca, em claro, preparando o material. Além de e-mails e telefonemas ainda não tinha encontrado com o aquele homem. Tomava conta de si a tensão do primeiro encontro - medo, insegurança, ansiedade e euforia, pois, de acordo com exigências, ela só saberia quem seria seu cliente após leitura e troca iniciais de percepções. Era como se ele quisesse compreender o universo para quem ele escrevia. Como se cada contato fosse uma coleta de informações.

Antes de entrar, recordou o trecho que a fez continuar, mesmo estando no escuro: “… tenho vínculos a desatar, caminhos a trilhar, dores a sentir, mas em mim há um amor intenso e este amor espera”. Ainda que algumas vezes sentisse em tal texto algo piegas e ridículo, sabia que era real. Feminino e necessário!
(avante)
Primeiras correções: Eder Lúcio

Trovas de muito amor para um amado senhor | Hilda Hilst


Dizeis que tenho vaidades.
E que no vosso entender
Mulheres de pouca idade
Que não se queiram perder

É preciso que não tenham
Tantas e tais veleidades.

Senhor, se a mim me acrescento
Flores e renda, cetins,
Se solto o cabelo ao vento
É bem por vós, não por mim.

Tenho dois olhos contentes
E a boca fresca e rosada.
E a vaidade só consente
Vaidades, se desejada.

E além de vós
Não desejo nada.

(XIII)

(Poesia: 1959-1979 - São Paulo: Quíron; [Brasília]: INL, 1980.)

ainda por desfazer

Rosso di Sire - Sara de Guide - No Flickr

Quando a nêga tomba...


Um nêgo
Que a chama de nêga
Pega em seus cabelos
e diz que gostou.
Porque negro é lindo! Dos cabelos aos pés!
Só que às vezes o nêgo que gosta da nêga
É branco, amarelo, vermelho...
Ele é italo-americo-angolo-saxão!
Porque nêgo, nêga - é maneira linda
de dizer que ele está no coração.
Ê nêgo!
A nêga tombou!
Na cama macia, na areia da praia, na grama molhada de orvalho...
É que nêga quando tomba
esquece que o nêgo
daqui a pouco vai!


Arpoador - RJ - Abril 2009

Alinhar ao centro
serena

sereníssima
seresma
sintágma
síntese
da simbiônica.
Sintética!


Humana!

semente
semblante
sereno
sintoma
sincero
da simbióse.
Sintonia!

Máquina!
a pior parte do dia - é quando a ansiedade do acontecimento me faz mascar qualquer chiclete porcaria.

Era um anjo!


Ele soprava um hálito quente em minha nuca. Sentia a sua voz em meus pensamentos: era suave, pausada e doce. Pedia que eu ficasse. Não pude! Entendia que os anjos não são nossos, mesmo quando estão conosco. Não poderia estar comigo o tempo todo. Era necessário dividir sua divindade e dúvidas. O anjo queria amar! Ah, Rilke! Tiveste razão em dizer que "os anjos são terríveis". Nos protegem, nos alucinam, nos instigam... Mas, eles não podem amar! Somos apenas pessoas comuns. Como amar pessoas comuns?!
Anjo! Seja benigno e ouça:
Aqui estou, refém da tua presença. Contaminada por tua existência. Aguardando que tu caias do céu...

Fog...lift me up, give me wings, and let me travel the world. {explored} - No Flickr - luke smithers

queria poder navegar e lançar a âncora lá no meio do mar...



Kris Kato - Closing - 2004

Casa Nova!

Eu adoro colocar os móveis em novos lugares, limpar a casa, pintar as paredes. Necessidade interior de mudança. Constante inconstância!
Então está aí minha casa nova, cheia de cor. Porque por hoje estou colorida de alegria.
Beijos!

Sublime - o - desejo

Eu quero além do possível.
Só o possível não me aquece.
Mas como querer além, se o impossível não me pertence?
Meus pés se mantêm gelados.

Não quero a calma da comunicação, quero a distância dos caminhos.
Mesmo gostando do inverno, agora quero a primavera.
Quero o risco da flor que se arrebenta.
E dura o suficiente para enfeitar.

Quero novamente a incerteza.
A certeza é cômoda demais.
Só a inconstância impulsiona.
A lógica é para os tolos.
Cansei de ser óbvia.

Tudo isso é o que tenho.
Um desejo de sublimar o desejo.
Neurotransmissores que não trabalham.

Todos os desejos nas pontas dos dedos.
Ainda por decifrar.

Tudo aquilo que há no sublime desejo.

Refugiar-se

Tragédias irremíveis
Entrelaçadas por comédias
Na confusão de vários palcos
Na confusão de várias dores

Constância!
Amores absolutos
Representação de sentimentos
Na evidência de si mesmo

Inconstância!
Em suas verdades mais profundas
Desalento e encanto!

Tudo aquilo que há em mim
Não haverá em ti
Alegria ou sordidez?

cortês [ãa.]

Passos entre o paraíso num azul intenso e os paralelepípedos cravejados nos morros. No caminho vi folhas caídas no chão, caiadas. Flores murchas. Disfarçadas do renascer, ávidas por desvendar o que vem depois. Hoje joguei um vaso de flores no lixo, delimos. Elas enfeitaram o meu jardim por muito tempo. Je laisse aller. Exatamente igual ao que já foi. Já é. Será? Não sei. Porque vim daqui. Voltei, sem nunca ter ido.
Não quero esse amor cortês [ãa.], de muitas. Quero sim o agradável perfume que penetra. Essência. Mas hoje joguei fora a inocência dos delírios, eram brancos todos os lírios. As folhas caídas fizeram-me assim - sem luxo. No afã: Vesti-me de camélia. Cultivada à meia sombra, sem a força do sol. No conforto do paraíso. Caída em êxtase, insone. A contemplar.

Porque hoje resgatei os escritos de ontem.

Postado no Pedaços da Vida em Vermelho em 2009-01-26T02:30:28.134-02:00

lo mejor de los hombres...

De Las uvas y el viento (1954)

Tenéis que oírme

Yo fui cantando errante
entre las uvas
de Euopa
y bajo el viento en el Asia.

Lo mejor de las vidas
y la vida,
la dulzura terrestre,
la paz pura,
fui recogiendo, errante,
recogiendo.

Lo mejor de una tierra
y otra tierra
yo levanté en mi boca
con mi canto:
la libertad del viento,
la paz entre las uvas.

Parecían los hombres
enemigos,
pero la misma noche
los cubría
y era una sola claridad
la que los despertaba:
la claridad del mundo.

Yo entré en las casas cuando
comían en la mesa,
venían de las fábricas,
reían o lloraban.

Todos eran iguales.

Todos tenían ojos
hacia la luz, buscaban
los caminos.

Todos tenían boca,
cantaban
hacia la primavera.

Todos.

Por eso
yo busqué entre las uvas
y el viento
lo mejor de los hombres.

Ahora tenéis que oírme.


Quem quiser se informar é só digitar no Google: "turismo sexual no Brasil"- estão lá todas as ações, estatísticas e afins

Lobo de si mesmo!

Eu juro que tenho tentado ser mais presente neste espaço... Mas como dizia aquela musiqueta brega – “são tantas coisas”.
Blogueira fajuta como sou não tenho conseguido estar aqui e nos blogs que sigo com a freqüência que eu gostaria... Mas o assunto vale todas as linhas que escreverei.
Acabei de ver com um amigo, o documentário - Cinderelas, Lobos & Um Príncipe Encantado de Joel Zito Araújo. Não colocaria na prateleira dos documentários preferidos porque senti muitos detalhes falhos. Mas isso é pura exigência de principiante.
O roteiro é sobre o mundo do turismo sexual no Brasil. Por aí já dá para perceber a seriedade da coisa e o valor que estas linhas terão, pois o assunto é seriíssimo.
Semanas atrás tive o privilégio em assistir a uma peça teatral chamada Menina Júlia, entre os vários questionamentos, o que mais me chamou a atenção foi a posição da mulher na sociedade. Me fez crer que o tempo passa, a sociedade modifica alguns comportamentos, mas outros, que para mim são os mais importantes, não se transformam. Somos sempre seres subjugados. Na constante luta do mais fraco contra o mais forte. E como foi bem lembrado no documentário, podemos colocar aí todas as posições: a mulher e o homem, o negro e o branco, o pobre e o rico... E por aí vai!

(Depois vou ler sobre Darwin, para saber o que ele fala sobre esta evolução. Será que ele pensou que não chegaríamos a lugar algum?! Que continuaríamos patéticos como somos?!)

Joel Zito é um cineasta brasileiro que sempre põe em foco as questões do negro em nosso país e com este documentário ele novamente aponta para a fragilidade que insistimos em nos manter. Como se não pudéssemos nunca sair da condição de negro escravo. O ponto falho, que é o mesmo que eu percebi em Menina Júlia, está na maneira que o público pode vir a interpretar o sarcasmo usado nos diálogos ou no direcionamento deles. Mas arte não foi feita para vir pronta e sim para ser digerida em sua totalidade. Talvez seja o abrandamento necessário para que não saiamos da sala agredidos. Não sei!
Como estive recentemente, e pela primeira vez, do outro lado do Atlântico, pude fazer as comparações entre o documentário, a vivência no local e o cotidiano no Brasil. E isto é o que nos vendem: um sonho que é alimentado pelo poder do capital, como se alimentam os porcos em cativeiro. Meros subprodutos da sociedade! Prontos para o abate.
Agora basta saber: ainda é passível de mudanças, transformações e recriações?!
O que é esta condição de mulher, negra e brasileira?
É isto que sempre tento colocar à prova em mim... Os valores que posso construir estando nestas condições.

Ironias necessárias... Uma das propagandas antes da exibição do documentário é a Gisele Bündchen num sofá vermelho, com o controle nas mãos, em meio à multidão, sendo arrastada de um canto a outro e aproveitando da realidade da HDTV. Uma propaganda da Sky, afinal The Sky's the limit! E viva as entrelinhas! E viva o céu!


Cores


Algarve - Maio 2009

O que se viu

Tinha visto um mar azul turquesa, estava no alto, a mesma visão privilegiada dos pássaros. Como um animal que vive e sobrevive através dos instintos conseguia perceber toda a beleza, mas ainda estava distante.
Na estrada víamos estranhas chaminés que contavam um pouco do que era aquele lugar. Frio, organizado e tradicional. Com marcas do passado e insinuações do futuro.
Seguíamos para novos rumos, algo que estava sendo construído ao longo dos anos. Mesmo assim nos trouxe um misto de segurança por entender o que se quer e acredita; e insegurança pela recepção do desconhecido.
Chegamos exauridas, com a programação em andamento e amizades já estabelecidas, daquelas aproximações que só o destino sabe o que fez! Um estar com os seus!
Ainda assim, a percepção era fria. Havia o cansaço de uma longa viagem; o reconhecimento de um espaço que não era nosso. Expectativa excitante dos sentidos! Uma estranha sensação de aproximação. É impossível perceber quando surgiu, veio apenas a necessidade de estar junto. Alegria de sentir o mesmo, olhar na mesma direção. Gradativa e inebriante!
Havia também o desgarrar, o desprender daquilo que por anos fazia parte de nós. Reconhecimentos dos corpos, sem o estímulo gélido das formalidades.

(As impressões de Portugal - Primeira parada: Algarve, Faro, Portimao. Maio de 2009)
Estou grávida!

Grávida de um amor eterno
Grávida da sensação de querer estar junto
Á espera do nascer!

Do primeiro sorriso
Do primeiro abraço
Do toque

Á espera!

Vejo crescer em mim um amor intenso, um laço que nem a morte desfará.

Estou grávida do desconhecido
Grávida da expectativa da chegada
Estou grávida de amar

Hoje pari cacos de vidros coloridos e plantei ao pé das árvores no jardim.
Agora há um jardim em mim!

De volta ao lar!

Dias extremamente felizes...

Tem dias que sentimos aguçados. O uso dos sentidos se torna extremo. Experimentações variadas; prazer em estar em casa, em estar com os filhos, com a família, com os amigos e perceber que o novo pode ser agradável e encantador, mas é acima de tudo, efêmero!

Tem coisa melhor do que o abraço daqueles que amamos? Acho que não! É coisa uterina, só pode! E junto disso descobri uma coisa – não sei escrever sobre a felicidade. Não sei escrever quando estou feliz ao extremo, penso que só sei sentir.

Sinto-me como um animal acuado, perdido, lançado para fora do seu grupo. Este é o sentir... Mas não fui lançada fora, vivo outros caminhos! Que por ser outros, são propícios ao extirpar.
Como é doído o extirpar! É vazio por demais a partida, deixa a sensação de se estar num deserto onde tudo o que se pode ver é o distante, o horizonte e suas possibilidades.
Cheguei, sem de fato chegar... Falta-me ainda o aconchego das palavras, o brilho no olhar, a alegria da presença, o abraço apertado, o beijo na face, o amor. Falta-me o ar.
Que linha tênue é esta do estar e não estar?!
Preciso de imediato do sopro da vida!

Gustav Klimt - The Kiss

O livro, o corpo e a alma

Se fosse para viver uma vida medíocre, era você que eu queria. Mas não quero uma vida medíocre. Minha vida é sem ordem. Sempre achei que o mundo deveria ser anárquico, caótico e desconexo. Livre! Só que o amor me domou, dominou, regurgitou... Então, sou assim: patética, dialética e pouco hermética. Coração de mãe!
Adoro todas estas tolices, adoro ainda mais o seu jeito de ganhar o mundo de dentro do seu retrato. No exercício, capturou a alma! Mas lembre-se bem... não cuidamos bem da alma.
Por isso te troquei pela escrita, pela incerteza das palavras, pela imagem no espelho e a marca no corpo.
Descobri: a escrita no antebraço, é só a escrita no antebraço. Não é poesia de barriga. Não atinge a garganta, nem o cóccix.

Ai se sêsse

Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse

Zé da Luz

Ouço o fremir...

Golden Rain - Sakura Love, no Flickr

Num meio-dia de fim de primavera tive um sonho....


Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.



Alberto Caeiro
(Em trechos)

Solilóquio



“È que dói não viver em amor e em renúncia. Quando o amor e a renúncia são terras dentro de mim. E uma vez mais me deitarei no frio, guia de luz perdido. Sem mistério e sem sombra.
(...)
E não sou um covarde... sofro pelas manhãs e pelas tardes. E pelas noites desvaneço... No entanto, é covarde que me sinto no olhar dos que me amam. É no prazer que arranco cem vezes da carne ou do espírito que quero. Ai de mim tão grande, tão pequeno... – e quando o digo intimamente! E em ambos, sem pânico... E me pergunto: Serei vazio de amor como os ciprestes no meio da ventania?”

(Trechos de Solilóquio – Antologia Poética – Vinícius de Moraes).

Ando escrevendo o livro da vida... Em linhas cada vez mais sinuosas. Que me perdoem os céus, afinal este livro da vida não é o eterno!
No entanto, escrever estas páginas não é tão fácil quanto se deseja, nem tão complexo como se vive. Revendo tudo o que faço e vejo, percebo que estamos distantes no que diz respeito à ideologia e conduta (falo do cotidiano). Pensamos um mundo e construímos outro. Pensamos a vida e deixamos nos levar pelo primitivismo da existência. Continuamos sendo os animais que somos! Farejando os caminhos...
É como se tivéssemos um percurso em linha reta e optássemos por seguir pelo labirinto... - experimentando portas, paredes, desvios, retrocessos e aberturas. Uma tendência ao caos, num caminho indispensável.
O simples, o pouco, o necessário, não nos interessa. Queremos o distante, o improvável, o contrário. Processo de evolução que nos faz visionários? Simples utopia do ser?

Short Love Story - Carlos Lascano


A SHORT LOVE STORY IN STOP MOTION from Carlos Lascano on Vimeo.


Eu quero envelhecer no amor...

Os hormônios e as variações dos instantes


A hora do colo.
A hora do choro.
Do riso tenso e impaciente.
Do cansaço.
Da irreflexão.
Ainda assim... tudo contido!

É a hora do sorvete.


Ilustração: Carlos Lascano

Quelqu'un M'a Dit

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses.
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos chagrins il s'en fait des manteaux

Pourtant quelqu'un m'a dit
Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?

On dit que le destin se moque bien de nous
Qu'il ne nous donne rien et qu'il nous promet tout
Parait qu'le bonheur est à portée de main,
Alors on tend la main et on se retrouve fou

Mais qui est ce qui m'a dit que toujours tu m'aimais?
Je ne me souviens plus c'était tard dans la nuit,
J'entend encore la voix, mais je ne vois plus les traits
"il vous aime, c'est secret, lui dites pas que j'vous l'ai dit"

Tu vois quelqu'un m'a dit
Que tu m'aimais encore, me l'a t'on vraiment dit...
Que tu m'aimais encore, serais ce possible alors ?

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos tristesses il s'en fait des manteaux,



Dia de Primeira Dama, não eu, claro! Mas de ouvir...


Neste instante somos eufóricos, complexos, polifônicos, profusão de frases soltas.
Mulheres histéricas; grunhindo a solidão da disputa.
Homens estéreis, "como se ele fora um bicho para que não houvesse na natureza ser complementar" ( O País das Uvas). Supérfluo.
Usamos a confusão como estratégia... humanos. Impacientes, passivos, na tentativa de contraponto: agressivos na superfície. Nada além da obviedade.

Desdar

Sinto-me presa, não posso me comunicar. Falo apenas com as ilusões, com as lembranças. Sinto-me presa em tudo que não vivi. Presa nos delírios desenhados, não por mim! Não posso mais comunicar-me com o mundo. Sinto-me descontente, à beira de um grito... Pungente. Ariscávamos a fala, o riso. Já não podemos mais! É só o silêncio! Você não ouve meus gritos, eu não posso mais ouvir a sua dor. Rompeu-se, extinguiu-se... Quero enterrar todas as lembranças. Todo o passado de descobertas e possibilidades. Esvair-me deste instante. Lançar o ontem na pira de Dante. Mais um final simples, pobre.
Não posso! Tenho guardado em mim o cheiro, não só em mim, mas em todos os cantos. Onde estivemos e onde pretendíamos estar. Tenho o cheiro da desordem que causou em mim a tua presença. Misturado ao gosto cítrico da sua existência. Instintivamente tento caminhar, meus sentidos estão presos, enraizados.
Hoje conversamos juntos aos ratos, não soubemos quem teve medo de quem. Você me disse que a cidade luz é Paris, acordei e vi uma cidade que brilha com a luz do sol... Nublada! Angustiantemente, nublada! Sem qualquer transparência.
Sinto-me vivendo os momentos mais felizes!!!

A mulher na janela

Todas as noites ela era feliz. Horas seguidas em frente à janela, sentindo a escuridão. Era o momento que mais esperava, pois, sabia que era único e seu. Criava histórias com o vento, com as sombras e o silêncio. Vez ou outra percebia uma dança, um farfalhar de sorrisos, respostas ao movimento... Observava como se também pudesse dançar. Sim, dançava! Confundia-se entre as sombras, perdia-se, encontrava-se... Fluía!

Estava ali, à espera, afoita, e tola. Tinha medo das coisas reais depois da janela. Mesmo exausta, cansada pela espera. Esperava! Poderia - dançar, ouvir e observar. Do outro lado, seria observada! Não era a sua prisão, era a sua libertação. Somente na janela poderia ser... Divina ou profana, não importa... Poderia a cada noite ser... Dentro dos pensamentos.

Hoje quis ser a pucelle heroína, mas conseguiu apenas a louca, perdida em espaços. Ouvia o sino, não ouvia as vozes. Ouvia as dores de alguém que queria partir, mas não ouvia falar sobre o amor... Sentia. Ouvia o choro abafado da criança obrigada a crescer. Ouvia o silêncio! Estava feliz... Em meio a tanto ouvir, pôde escutar as gargalhadas daqueles que estavam à sua espera. Todos muito além daquela janela.

Neste instante...

Meu coração bate intensamente, chego a pensar que tenho dois. Um que é o bem e outro que quer ser o mal. Às vezes gostaria de ser má. Odiar intensamente; não perdoar; não compreender. Lembro-me de uma samba: - “Não sai de mim”. Essa intensidade do bem, não sai. Está impregnada. Ouvi a mesma música várias vezes, quem sabe não estive à espera da simples transformação das palavras?! Que os pensamentos também pudessem compor uma música... Um samba, um tango, um bolero; mas eu gosto mesmo é de jazz. O primeiro que ouvi – Naima – feito por amor. O encontro do amor supremo. Acho que é por isso que não sou má, acredito no amor supremo, pleno e absoluto. Em busca dele, toda forma de bem é válida e falível. Odeio quando todos não podem amar na mesma proporção do meu amor. Descobri: também sei odiar! Odeio!

Pucelle?



Joan of arc burning at stake. Drawn by Jules-Eugène Lenepveu (1819-1898), a French neoclassical artist.

É patética a nossa soberania. Corremos o mundo, visitamos lugares e conhecemos pessoas. Moramos no quarto, voltamos atrás e desenhamos na tela nossas pseudo-conclusões e derradeiras ilusões...
Viver para você é decepção!
Dias felizes... Hoje estive com pessoas que eu amo.
Queria verbalizar o que está impresso aqui dentro.
Queria roteirizar todos os sentimentos.
Queria poder pintar a alegoria que há em mim.
E no fim, perceber que o que temos é só música!
Apesar de você

Chico Buarque
Composição: Chico Buarque


Amanhã vai ser outro dia

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão.
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.

Apesar de você
amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar.

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro.

Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
de “desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar.

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria.

Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença.

E eu vou morrer de rir
E esse dia há de vir
antes do que você pensa.
Apesar de você

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia.

Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal,
La, laiá, la laiá, la laiáÂ…Â….

Assim que eu acordei...

O dia foi longo e por isso resolvi ir para a cama mais cedo, agora a pouco fui acordada com esta música. O meu vizinho do telão (que é outra história) estava ouvindo no último volume. Inicialmente era de se ficar mal-humorada, mas “apesar de você...”

O externo desenvolve nossas sandices e quando penso no individual da frase, percebo que o apesar de você não existe de forma dramática para mim. Até tento dramatizar e transformar algumas coisas em um bolero de quinta. Mas acho que não está em mim! Algumas situações que me cercam, também puxam para isso. Sou bem suscetível às manias e sandices do outro. Gosto de pessoas. Assimilo o que elas têm. Mas... “apesar de você...”

Mesmo sabendo de um longo caminho perdido, aprendi e apreendi algumas coisas (captamos tudo, mesmo que o mundo seja de Alice!) e uma delas foi de não odiar, não ter raiva (só as instantâneas) e perdoar – sempre! Talvez esteja em mim o “amanhã é outro dia”. Passividade, permissividade excessiva, tolice?! Não sei. Mas gosto de pensar no outro dia, mesmo que ele seja regado à desesperança. Quem sabe não é a sede de se buscar tudo o que o instante pode me dar?!

Amanhã vai ser outro dia! E assim vamos relevando as tolices!


Ps.: depois quero falar do contexto político desta música. Hoje transitei por vários ambientes e situações que também me deram outro instante.

Ausente

Na tentativa de coordenar as idéias... Mil coisas estão acontecendo. Coisas boas, mas todas ao mesmo tempo.
Tenho muito para dizer sobre o livro que estou lendo, os filmes que vi, as dúvidas dos instantes. Sinto que a agilidade do dia está tornando tudo à minha volta, imemorável.
Hoje descobri, que já não vivo sem anotar tudo o que tenho a fazer... Minha memória anda ruim.

"Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado."

Vinícius de Moraes

As pequenas coisas

Ele ainda parecia crescer. Formas definidas, alguns fios brancos pelo corpo, dores escondidas, dentro de sua redoma. Ainda assim era um menino. Talvez crescido pela força e circunstâncias. Vivido por um amor intenso e pela ausência que diziam ser do enlouquecer.
Guardava para si todos os desejos. O carinho só aparecia se junto dele houvesse um drink qualquer. Desarmava-se e transgredia da rotina. Transformava-se em essência.
Nascido na cidade dos amores de verão, ele vivia os seus. Dizia que depois de um grande amor sofrido - só resta viver e não amar.
– Agora não! Agora não!
– Ainda não quero amar!
Sentia a solidão das cidades; do cinza que se vê além do colorido. Sentia que mesmo estando no paraíso, aquele não era o seu lugar. Estava fora de si, distante de tudo o que queria. Mas temia. Não só o amor, como a vida. Temia o fato de não saber o que ela tinha para lhe dar.
Tinha um olhar atento. Racionalmente sabia dos seus passos e mesmo assim eram as ilusões que o perseguiam. Via através de suas lentes o mundo que queria. Era um desejo em meio a tantos perdidos. Sentia-se um canalha por não saber ainda as definições de seus caminhos. Sua racionalidade não permitia ser.
Naquela noite descobriu que era hora de mudar. Havia recebido uma mensagem que o fizera pensar. Os risos eram de festa, de máscaras e despreocupações. Desejos e paixões de uma noite. Ele estava lá, sem estar. Escondido. Letárgico e imaginativo, buscando compreender que diferença era aquela. O que havia naquilo tudo, que o fazia falar e ser ele mesmo.

...


VideoPlaylist
I made this video playlist at myflashfetish.com

Eu não sou da sua rua

Eu não sou da sua rua,
Não sou o seu vizinho.
Eu moro muito longe, sozinho.
Estou aqui de passagem.

Eu não sou da sua rua,
Eu não falo a sua língua,
Minha vida é diferente da sua.
Estou aqui de passagem.
Esse mundo não é
Meu, esse mundo não é seu

Terrinha

"Todo mundo necessita de um lugar para voltar" (Crime e Castigo - Fiódor Dostoievski)

Tem dias que tenho uma birra tremenda desta terrinha. Povinho tacanho, preconceituoso, bairrista, tribal e primitivo. Acho que estes dois últimos são um, conseqüência do outro, estão interligados, não sei.
Mas ontem estive na praça para alegrar o meu carnaval (mesmo não gostando nem um pouco desta folia e dos aglomerados). Tínhamos lá o Carnaviola, coisa de roça... Fala forçada, por uma representação que sempre me recusei em aceitar, mistura de elementos, falta de identidade (talvez). Ainda sim, "teve" bom, lembrei de uma bandinha que vi em uma praça no Flamengo. Resgate saudável de algumas tradições.
Ando à procura do urbano, dos novos caminhos, de algo que ainda não vi. No entanto, gosto do cheiro de terra molhada e não do cheiro de chuva no asfalto, ou do cheiro de peixe que vem do mar.
Gosto do doce feito pela vovó, das quitandas maravilhosas que só encontro por aqui, do queijo fresco e saboroso; mas gosto do ir e vir das pessoas, da babel que é o metrô, da arquitetura mista e histórica. Das possibilidades infinitas e de ser mais um no meio da multidão. Da tecnologia, do acesso, da informação...
Gosto ainda mais do meu quarto, da infinitude de pensamentos, do poder da imaginação. Por isso a frase no início: "todo mundo necessita de um lugar para voltar", mesmo que este lugar seja dentro de si.
Como sempre diz o meu amigo: "eu moro em mim".


waterglobe - drawn.ca
à minha terrinha que não tem mar
e as infinitas possibilidades de se navegar

Obediência

Quero um querer que não me pertence.

Pertenço aos desejos que não são meus…

Vindos de dores que não se apagam.

Não há grito! Não há desejo!

Apenas a obediência do não querer.

A dor do não ser.

Seu.

O contentamento dos papéis.

O desejo noturno do amanhecer!

Agora, não mais desvanecer.

Começo no Fim

Sabe quando você se depara com uma situação estranha e a primeira reação é dar um passo pra trás, está aí o começo no fim. Leia bem, NO fim. Se bem que muitas vezes, por aqui, será o começo DO fim. Nada depressivo demais, afinal este instante já foi! E escrever virou vício e vicissitude. No fundo: contentamento!!!

Levo as representações e deixo as incertezas!

Esta frase está no último post que fiz no blog Pedaços da Vida em Vermelho e que no final do ano se transformou em Vida. O título era: Faço minha coleção.
Percebo que são coleções de Instantes Imemoráveis. Todas tiveram a importância necessária e deram sua contribuição para o próximo acontecimento. Paradoxal fazer coleções de instantes, não?! É nesse paradoxo que elas se tornam imemoráveis, incertas e incompletas. Próximo passo: recomeço!!!

Promessa de recomeço: Não mais orfanar.

Do Desejo

Quem és?
Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.
Hilda Hilst