Solilóquio



“È que dói não viver em amor e em renúncia. Quando o amor e a renúncia são terras dentro de mim. E uma vez mais me deitarei no frio, guia de luz perdido. Sem mistério e sem sombra.
(...)
E não sou um covarde... sofro pelas manhãs e pelas tardes. E pelas noites desvaneço... No entanto, é covarde que me sinto no olhar dos que me amam. É no prazer que arranco cem vezes da carne ou do espírito que quero. Ai de mim tão grande, tão pequeno... – e quando o digo intimamente! E em ambos, sem pânico... E me pergunto: Serei vazio de amor como os ciprestes no meio da ventania?”

(Trechos de Solilóquio – Antologia Poética – Vinícius de Moraes).

Ando escrevendo o livro da vida... Em linhas cada vez mais sinuosas. Que me perdoem os céus, afinal este livro da vida não é o eterno!
No entanto, escrever estas páginas não é tão fácil quanto se deseja, nem tão complexo como se vive. Revendo tudo o que faço e vejo, percebo que estamos distantes no que diz respeito à ideologia e conduta (falo do cotidiano). Pensamos um mundo e construímos outro. Pensamos a vida e deixamos nos levar pelo primitivismo da existência. Continuamos sendo os animais que somos! Farejando os caminhos...
É como se tivéssemos um percurso em linha reta e optássemos por seguir pelo labirinto... - experimentando portas, paredes, desvios, retrocessos e aberturas. Uma tendência ao caos, num caminho indispensável.
O simples, o pouco, o necessário, não nos interessa. Queremos o distante, o improvável, o contrário. Processo de evolução que nos faz visionários? Simples utopia do ser?

Short Love Story - Carlos Lascano


A SHORT LOVE STORY IN STOP MOTION from Carlos Lascano on Vimeo.


Eu quero envelhecer no amor...

Os hormônios e as variações dos instantes


A hora do colo.
A hora do choro.
Do riso tenso e impaciente.
Do cansaço.
Da irreflexão.
Ainda assim... tudo contido!

É a hora do sorvete.


Ilustração: Carlos Lascano

Quelqu'un M'a Dit

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses.
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos chagrins il s'en fait des manteaux

Pourtant quelqu'un m'a dit
Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?

On dit que le destin se moque bien de nous
Qu'il ne nous donne rien et qu'il nous promet tout
Parait qu'le bonheur est à portée de main,
Alors on tend la main et on se retrouve fou

Mais qui est ce qui m'a dit que toujours tu m'aimais?
Je ne me souviens plus c'était tard dans la nuit,
J'entend encore la voix, mais je ne vois plus les traits
"il vous aime, c'est secret, lui dites pas que j'vous l'ai dit"

Tu vois quelqu'un m'a dit
Que tu m'aimais encore, me l'a t'on vraiment dit...
Que tu m'aimais encore, serais ce possible alors ?

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos tristesses il s'en fait des manteaux,



Dia de Primeira Dama, não eu, claro! Mas de ouvir...


Neste instante somos eufóricos, complexos, polifônicos, profusão de frases soltas.
Mulheres histéricas; grunhindo a solidão da disputa.
Homens estéreis, "como se ele fora um bicho para que não houvesse na natureza ser complementar" ( O País das Uvas). Supérfluo.
Usamos a confusão como estratégia... humanos. Impacientes, passivos, na tentativa de contraponto: agressivos na superfície. Nada além da obviedade.

Desdar

Sinto-me presa, não posso me comunicar. Falo apenas com as ilusões, com as lembranças. Sinto-me presa em tudo que não vivi. Presa nos delírios desenhados, não por mim! Não posso mais comunicar-me com o mundo. Sinto-me descontente, à beira de um grito... Pungente. Ariscávamos a fala, o riso. Já não podemos mais! É só o silêncio! Você não ouve meus gritos, eu não posso mais ouvir a sua dor. Rompeu-se, extinguiu-se... Quero enterrar todas as lembranças. Todo o passado de descobertas e possibilidades. Esvair-me deste instante. Lançar o ontem na pira de Dante. Mais um final simples, pobre.
Não posso! Tenho guardado em mim o cheiro, não só em mim, mas em todos os cantos. Onde estivemos e onde pretendíamos estar. Tenho o cheiro da desordem que causou em mim a tua presença. Misturado ao gosto cítrico da sua existência. Instintivamente tento caminhar, meus sentidos estão presos, enraizados.
Hoje conversamos juntos aos ratos, não soubemos quem teve medo de quem. Você me disse que a cidade luz é Paris, acordei e vi uma cidade que brilha com a luz do sol... Nublada! Angustiantemente, nublada! Sem qualquer transparência.
Sinto-me vivendo os momentos mais felizes!!!

A mulher na janela

Todas as noites ela era feliz. Horas seguidas em frente à janela, sentindo a escuridão. Era o momento que mais esperava, pois, sabia que era único e seu. Criava histórias com o vento, com as sombras e o silêncio. Vez ou outra percebia uma dança, um farfalhar de sorrisos, respostas ao movimento... Observava como se também pudesse dançar. Sim, dançava! Confundia-se entre as sombras, perdia-se, encontrava-se... Fluía!

Estava ali, à espera, afoita, e tola. Tinha medo das coisas reais depois da janela. Mesmo exausta, cansada pela espera. Esperava! Poderia - dançar, ouvir e observar. Do outro lado, seria observada! Não era a sua prisão, era a sua libertação. Somente na janela poderia ser... Divina ou profana, não importa... Poderia a cada noite ser... Dentro dos pensamentos.

Hoje quis ser a pucelle heroína, mas conseguiu apenas a louca, perdida em espaços. Ouvia o sino, não ouvia as vozes. Ouvia as dores de alguém que queria partir, mas não ouvia falar sobre o amor... Sentia. Ouvia o choro abafado da criança obrigada a crescer. Ouvia o silêncio! Estava feliz... Em meio a tanto ouvir, pôde escutar as gargalhadas daqueles que estavam à sua espera. Todos muito além daquela janela.

Neste instante...

Meu coração bate intensamente, chego a pensar que tenho dois. Um que é o bem e outro que quer ser o mal. Às vezes gostaria de ser má. Odiar intensamente; não perdoar; não compreender. Lembro-me de uma samba: - “Não sai de mim”. Essa intensidade do bem, não sai. Está impregnada. Ouvi a mesma música várias vezes, quem sabe não estive à espera da simples transformação das palavras?! Que os pensamentos também pudessem compor uma música... Um samba, um tango, um bolero; mas eu gosto mesmo é de jazz. O primeiro que ouvi – Naima – feito por amor. O encontro do amor supremo. Acho que é por isso que não sou má, acredito no amor supremo, pleno e absoluto. Em busca dele, toda forma de bem é válida e falível. Odeio quando todos não podem amar na mesma proporção do meu amor. Descobri: também sei odiar! Odeio!

Pucelle?



Joan of arc burning at stake. Drawn by Jules-Eugène Lenepveu (1819-1898), a French neoclassical artist.

É patética a nossa soberania. Corremos o mundo, visitamos lugares e conhecemos pessoas. Moramos no quarto, voltamos atrás e desenhamos na tela nossas pseudo-conclusões e derradeiras ilusões...
Viver para você é decepção!
Dias felizes... Hoje estive com pessoas que eu amo.
Queria verbalizar o que está impresso aqui dentro.
Queria roteirizar todos os sentimentos.
Queria poder pintar a alegoria que há em mim.
E no fim, perceber que o que temos é só música!
Apesar de você

Chico Buarque
Composição: Chico Buarque


Amanhã vai ser outro dia

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão.
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.

Apesar de você
amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar.

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro.

Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
de “desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar.

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria.

Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença.

E eu vou morrer de rir
E esse dia há de vir
antes do que você pensa.
Apesar de você

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia.

Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal,
La, laiá, la laiá, la laiáÂ…Â….

Assim que eu acordei...

O dia foi longo e por isso resolvi ir para a cama mais cedo, agora a pouco fui acordada com esta música. O meu vizinho do telão (que é outra história) estava ouvindo no último volume. Inicialmente era de se ficar mal-humorada, mas “apesar de você...”

O externo desenvolve nossas sandices e quando penso no individual da frase, percebo que o apesar de você não existe de forma dramática para mim. Até tento dramatizar e transformar algumas coisas em um bolero de quinta. Mas acho que não está em mim! Algumas situações que me cercam, também puxam para isso. Sou bem suscetível às manias e sandices do outro. Gosto de pessoas. Assimilo o que elas têm. Mas... “apesar de você...”

Mesmo sabendo de um longo caminho perdido, aprendi e apreendi algumas coisas (captamos tudo, mesmo que o mundo seja de Alice!) e uma delas foi de não odiar, não ter raiva (só as instantâneas) e perdoar – sempre! Talvez esteja em mim o “amanhã é outro dia”. Passividade, permissividade excessiva, tolice?! Não sei. Mas gosto de pensar no outro dia, mesmo que ele seja regado à desesperança. Quem sabe não é a sede de se buscar tudo o que o instante pode me dar?!

Amanhã vai ser outro dia! E assim vamos relevando as tolices!


Ps.: depois quero falar do contexto político desta música. Hoje transitei por vários ambientes e situações que também me deram outro instante.

Ausente

Na tentativa de coordenar as idéias... Mil coisas estão acontecendo. Coisas boas, mas todas ao mesmo tempo.
Tenho muito para dizer sobre o livro que estou lendo, os filmes que vi, as dúvidas dos instantes. Sinto que a agilidade do dia está tornando tudo à minha volta, imemorável.
Hoje descobri, que já não vivo sem anotar tudo o que tenho a fazer... Minha memória anda ruim.